Encontrei esse texto escrito pelo
Professor Clélio Berti, no blog da Unidade do Método DeRose Braga, de Portugal. Como foi pura sincronia com as aulas anteriores, nas quais falei bastante sobre respiração e também, por ter uma aluna de mudança para Braga, achei interessante compartilhar o texto com vocês.
Boa leitura!
"Um corpo saudável e forte necessita de alguns cuidados. Há um tripé fundamental para uma saúde significativa e uma qualidade de vida razoável: boa alimentação, actividade física moderada e felicidade.
Hoje vamos trabalhar com a alimentação. Mas o nosso assunto não é respiração? Pois bem, o corpo humano é alimentado de energia biológica que, no Yôga, chamamos de prána. Essa bioenergia é que movimenta. Um indivíduo com uma quantidade significativa de prána terá uma boa saúde, será activo, realizador e aproveitará a vida numa dimensão superior.
Nós retiramos a bioenergia, prána, do sol, dos alimentos, da água e do ar. Portanto, boa alimentação, do ponto de vista de Yôga, significa ingerir alimentos bons para o organismo, beber água em quantidade e qualidade excelentes e respirar ar puro e de forma que o organismo possa maximizar a absorção de bioenergia. A qualidade do ar não está ao nosso alcance imediato, pois a vida das grandes metrópoles implica numa certa dose de poluição do ar. Entretanto, a respiração adequada de forma a absorver a maior quantidade de bioenergia está disponível para qualquer um. São as técnicas respiratórias do Yôga que chamamos de pránáyáma. Ao quebramos a palavra, temos prána cujo significado é alento, força vital, energia, vitalidade; e áyáma cujo significado é expansão, intensidade. Ou seja, pránáyáma é a expansão da bioenergia através de técnicas respiratórias.
Por outro lado, a respiração é um processo consciente e inconsciente ao mesmo tempo. Respiramos vinte e quatro horas por dia sem que percebamos, porém podemos influir no ritmo respiratório. Portanto, a respiração é um elo de ligação entre as funções conscientes e inconscientes do ser humano.Cada estado emocional possui um ritmo respiratório característico. Se estivermos dormindo, a respiração é abdominal e lenta. Se estivermos agitados, stressados, a respiração é superficial e torácica. Se estivermos em estado de vigília, a respiração tenderá a ser completa. Nesses estados emocionais, o ritmo respiratório é ajustado inconscientemente. Certas características da personalidade humana manifesta-se também na respiração. Pessoas tímidas ou medrosas tendem a ter uma respiração superficial. Elas não conseguem expor-se ao ambiente e interagir com ele de forma ampla. Ou seja, há um padrão normal de respiração para cada indivíduo dependendo das características pessoais.
Toda a tensão emocional é materializada, no plano físico, com uma contracção muscular. Estados duradouros de tensão emocional reflectem-se em estados duradouros de contracção muscular. Reich denominou esse fenómeno de couraça do carácter. Quanto maior a tensão emocional, maior é a couraça do carácter e mais superficial será a respiração. Entretanto, os efeitos da emoção na respiração podem-se notar, de maneira mais intensa, por ocasião de um facto especial. O encontro, por exemplo, com uma grande paixão. O coração acelera, o rosto esquenta, as mãos e os pés gelam e a respiração fica acelerada. Características semelhantes acontecem com um grande susto ou uma situação muito stressante. Os estados emocionais afectam a respiração e o contrário também é verdadeiro: a respiração afecta as emoções. Essa é uma chave fundamental. Se a timidez leva a uma respiração superficial e eu desejo vencer a timidez, posso utilizar uma respiração profunda. Portanto, uma das maneiras de administrar as emoções é a utilização de técnicas respiratórias.
Fotógrafa: Fer Vasconcelos / Modelo: Marina Engler.
Se as emoções se processam a nível inconsciente e provocam uma respiração determinada, a respiração consciente em determinado ritmo, leva a estados emocionais compatíveis. Entretanto, a respiração afecta não só as emoções, mas também os estados mentais. O fluxo do pensamento é determinado também pelo fluxo respiratório. Ou seja, respirar correctamente produz diversos efeitos: há aumento significativo da bioenergia; as emoções são facilmente administradas; e a mente fica serena. O Yôga possui as retenções com ar e sem ar. Se as emoções e a mente são vinculadas ao fluxo respiratório, se pararmos de respirar temporariamente, nas retenções com ar ou sem ar, o fluxo das emoções e do pensamento também param. Quando isso acontece, estados superiores de consciência manifestam-se. São os respiratórios do Yôga (pránáyámas) que trabalham ritmo com retenções com ar e sem ar.
Outro respiratório muito utilizado no Yôga é a respiração do sopro rápido que leva a uma hiper-oxigenação do sangue. Quando bombeamos muito oxigénio no sangue, há oxigénio nos músculos. Com isso, há uma descontracção generalizada. Se as tensões emocionais levam a contracções musculares, a hiper-oxigenação leva ao relaxamento generalizado dos músculos e, como consequência, relaxamento das tensões emocionais. As técnicas que aumentam a taxa de oxigénio no sangue também estimulam a kundaliní e os chakras, pois aumentam a energia biológica. Com o estímulo dos chakras o indivíduo adquire saúde excelente e desenvolve os poderes interiores. Com o estímulo da kundaliní, o indivíduo atinge estados superiores de consciência e o conhecimento completo de si mesmo e da natureza.
Veja que tanto as técnicas que aumentam significativamente o oxigénio do sangue, bem como os respiratórios ritmados com retenções com ar ou sem ar são úteis para o ser humano. Para utilizar de maneira eficaz, o praticante deverá procurar um instrutor de Yôga formado para trabalhar os dois elementos de forma segura e eficaz. Isso por que, as grandes retenções com ar e, mesmo as não tão longas retenções sem ar, reduzem significativamente o oxigénio do sangue. Se isso não for bem dosado, poderá provocar consequências não agradáveis. Portanto, não se aventure por conta e risco, se não estiver seguro do que está fazendo. Nessa matéria, somente ensinaremos técnicas seguras. Os resultados aparecem de imediato? Quando você faz uma prática de respiratórios e faz respirações profundas, você altera os estados emocionais e mentais. É só parar de fazer o respiratório (pránáyáma) e a respiração volta a ser a mesma. A razão é simples: se você respirou de forma incorrecta por vinte e dois anos, não é em uma prática que esse ritmo é restabelecido. Mas o caminho é esse. Você respira bem durante a prática. Com a repetição da prática, aos poucos, a sua respiração correta cada vez mais passa a fazer parte da sua vida. É bom frisar que não há magia. O resultado depende da prática constante, contínua e frequente.
Para o desenvolvimento adequado das técnicas respiratórias, o correto é você encontrar um instrutor de Yôga formado. Porém, há técnicas simples que podem ser executadas sem qualquer risco e excelentes resultados. O livro Tratado de Yôga do escritor e educador DeRose, relaciona cinquenta e oito técnicas respiratórias diferentes. Entre elas temos respiratórios para activar os chakras e a kundaliní. Esses respiratórios são para praticantes avançados.
Uma técnica simples, porém muito eficiente, é a respiração completa. Conhecido como rája pránáyáma. Sente-se numa posição firme e confortável. Inspire projectando o abdómen para fora, continue inspirando expandindo as constelas para os lados e dilatando a parte mais alta do tórax. Retenha o ar nos pulmões por alguns instantes. Expire soltando a parte alta, depois a média e finalmente a parte baixa dos pulmões. Faça essa respiração por dez minutos e vá aumentado o tempo aos poucos. Qualquer técnica respiratória tem de ser gostosa. Não pode produzir cansaço nem desconforto. A face deve manter-se serena e os batimentos cardíacos não podem acelerar.
Outra técnica interessante é executar o respiratório ritmado enquanto caminha. Você inspira em quatro passos. Retém o ar nos pulmões cheios por quatro passos. Expira nos outros quatro passos. Repita o ciclo enquanto caminha. Você pode ajustar o ritmo ao seu organismo. Se quatro for algo que leve ao desconforto ou falta de ar, você inspira em três passos, retém em três e expira em três. Ou seja, você pode aumentar ou diminuir o tempo de acordo com o seu ritmo biológico. Não poderá haver cansaço, falta de ar ou desconforto. Lembre-se sempre de respeitar o seu corpo. Não o agrida.
O antara kúmbhaka é um excelente respiratório. Sentado numa posição firme e confortável, você inspira expandindo o abdômen, as costelas e o alto do tórax em quatro segundos. Retém com os pulmões cheios contando oito segundos. Expira primeiro a parte alta, depois a média e finalmente a baixa em quatro segundos. É o respiratório ritmado. A proporção aqui ensinada é 1:2:1 (inspiração: retenção com ar: expiração), ou seja, o tempo de retenção com ar é o dobro da inspiração e o tempo da expiração é igual ao da inspiração. Outro ritmo interessante, porém mais avançado, é 1:4:2. Nesse caso, a retenção com ar é quatro vezes o tempo da inspiração e a expiração é o dobro do tempo da inspiração. Assim, por exemplo, se você inspira em quatro segundos, a retenção com ar é em dezasseis segundos e a expiração é em oito segundos. Nessa técnica, não há retenção sem ar. As retenções sem ar não devem ser feitas, sem o acompanhamento de um instrutor de Yôga formado.
O ritmo na respiração produz efeitos fantásticos. Um ritmo suave, cadenciado e fluido deixará as suas emoções e a sua mente, suave, cadenciada e fluida. A respiração ritmada detona qualquer stress. Porém, o ritmo deve ser suave. Não deverá haver ruído e a respiração deverá ser, nesses casos acima, sempre nasais. Ou seja, o ritmo deve ser suave como uma pluma solta ao vento. Não poderá haver cansaço, transpiração, aceleração cardíaca ou desconforto. Qualquer desses sinais significa que você está exagerando na prática. Reduza o tempo de prática ou o ritmo dos respiratórios. Além dos ritmos aqui ensinados, temos vários outros. Há as contrações de glândulas e plexos – as bandas, as mentalizações e as canalizações energéticas. Para isso, faz-se necessária a bibliografia especializada.
Uma excelente possibilidade é a prática orientada por CD. Há a
Prática Básica do Mestre DeRose que ensina os fundamentos alguns respiratórios diferentes. O livro Pránáyáma do André Van Lysebeth, Presidente da Federação Belga de Yôga, é também um livro recomendado."