Após 80 anos de intensas
batalhas e muita luta, os portugueses finalmente encontram o caminho marítmo
para as Ìndias. Em 18 de maio de 1498, Vasco da Gama e seus homens avistaram o
monte Eli na costa do Malabar na Índia.
Malabar é um importante
entreposto comercial e berço da pimenta, do cardamomo, canela e muitas outras
especiarias que fez daquele lugar um grande mercado de trocas entre hindus,
cristãos, judeus, gregos, árabes e outros.
Após vencer dois oceanos e andar
mais de 20 mil kilômetros, Vasco da Gama volta a Portugal com o navio repleto
de pedras precisoas, tecidos e especiarias. Um verdadeiro marco na navegação
mundial. Esse grande passo para o comércio mundial também causou cenas que no
mínimo eram de se imaginar constrangedoras.
Nossos colegas lusos,
espanhóis, franceses, italianos, entre outros, eram bravos e destemidos
guerreiros que saíram de uma Europa com fortes resquícios medievais, com quase
nenhuma infra-estrutura na área de saúde, esgotos e etc., marcada pelos
péssimos costumes e hábitos advindos. Soma-se a tudo isso as condições
precárias pelas quais nossos marinheiros navegavam em direção ao novo mundo.
Muitas dessas viagens
duravam cerca de 12 meses ou mais, nelas muitos eram marinheiros de primeira
viagem e passavam muito mal por conta do balanço das embarcações o que
contribuía em muito para a sujeira no convés. Banheiro não havia, o máximo eram
baldes amarrados a uma corda, na qual os marujos se aliviavam e os jogavam ao
mar para limpá-los, o papel higiênico era uma corda desfiada na ponta que tinha
a sua extremidade mergulhada no mar depois de feito o serviço de asseio
pessoal. A falta de higiene a bordo e as péssimas condições sanitárias sem
dúvida nenhuma eram a grande causa de muitas doenças e males.
A alimentação também não era
a mais adequada. Cada bravo tinha direito à meio quilo de carne seca salgada,
cebola, vinagre, azeite, água, vinho e um biscoito duro e seco. Poucos dias
depois a água estava turva e fétida, o vinho azedo, a carne podre e os
biscoitos embolorados devido a grande umidade presente nas embarcações de
madeira. No final das expedições um rato chegava a ser uma iguaria sem igual. O
escorbuto, traduzido como “ventre aberto”, atacava os navegantes que ficavam
por muito tempo sem ingerir vitamina C. A doença causa hemorragias que inchavam
as gengivas, as aprodreciam e faziam co que ficasem mal cheirosas.
Aqueles que sobreviviam as
péssimas condições de higiene e alimentação tinham que sobreviver também a
viagem em si. De cada 3 navios que zarpavam 2 não retornavam, de cada quarenta
marinheiros, vinte não voltavam.
Voltando a Gama e seus
homens, em maio de 1498 em Malabar, Gama se encontra com o rája de Calicute e
temos então um choque diplomático no mínimo inusitado. Os lusos foram vistos
como visitantes de segunda classe. Gama ofereceu ao nobre rei de Calicute
chapéus, quatro colares, seis bacias de cobre, dois barris de azeite e dois de
açúcar. Tais oferendas soaram como ofensas a um rei coberto de pedras preciosas
e seda.
Vasco da Gama não se banhava
a mais de um ano, não só por conta da expedição mas por que afinal um
banho de corpo inteiro era comum na Europa apenas duas vezes por ano, seus
odores não eram dos melhores e sua alimentação e de seus homens durante aquele
período também não. Foram então conhecer o salão real, os sacerdotes do rája
borrifavam perfume nos visitantes a fim de aliviar os Cheiros de Corpos e
pediram para que os mesmos tapassem a boca com a mão esquerda ao dirigirem a
palavra ao samorim, Glafer pediu também aos visitantes para não tocarem com os
lábios na prata dos copos que iriam beber água e além disso, solicitou que os
ilustres viajantes evitam-se o escarro e o arroto.
Glafer em sua sala estava
sentado envolto em uma túnica bordada com rosas de ouro, seus cabelos sedosos,
suas unhas dos pés e das mãos esmaltadas e seu hálito perfumado pro uma mistura
de cânfora e âmbar e faziam daquele encontro o encontro dos extremos. Antes de
se vestir era tradição passar no corpo uma pasta perfumada pelo corpo, talco,
almíscar e outras essências, a barba e o bigode eram aparados e os homens se
depilavam. Além disso, o ambiente era perfumado com incenso e os nobres
mastigavam uma mistura de cravo e canela para perfumar o hálito.
A tradição de limpeza e
purificação nos ritus hindus é muito conhecido. Dentro do Yôga tomou uma
conotação ainda mais acentuada e suas técnicas são conhecidas como kriyá. Kriyá
significa atividade e sua definição formal é atividade de purificação de
mucosas. Os kriyás se aprofundam no conceito de limpeza fazendo com que ele não
fique restrito a limpeza externa. Grande parte do acervo das técnicas de
purificação orgânicas do Yôga são em geral de limpeza das mucosas internas.
Entre os principais kriyás, temos o “shat karma” ou “seis ações” que resumem os
mais conhecidos e importantes. São eles:
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Kapálabhati
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Limpeza do cérebro e dos pulmões. Também pode ser catalogado como
pránáyáma.
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Trátaka
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Limpeza dos globos oculares e treinamento para melhorar a visão. Tem
atuação muito rápida para astigmatismo e hipermetropia.
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Nauli
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Limpeza dos intestinos e dos órgãos abdominais por massageamento.
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Nêti
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Limpeza das narinas e do seio maxilar com água (jala nêti) ou com uma
sonda especial (sútra nêti).
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Dhauti
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Limpeza do esôfago e do estômago com água (jala dhauti) ou com uma
gaze (vasô dhauti).
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Basti (vasti)
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Limpeza do reto e do cólon
com água. Foi o ancestral do clister.
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Flagrou-se então um
verdadeiro choque de culturas e hábitos que deve ter sido no mínimo hilário. O
Europeu com ares de conquistador recheado de bugigangas para oferecer aos
nativos em troca de informações, encontrando pela frente um maharája ostentando
uma limpeza impecável e muito luxo.
Essa situação realmente foi
tão desconfortável que poucos anos mais tarde o próprio D. Manoel, rei de
Portugal, informou que umas das principais missões de Pedro Álvares Cabral,
naquele momento o homem escolhido para ir as Índias, era o de impressionar os
rajás hindus com a “pujança da frota lusitana” abarrotando as naus com muitas
moedas de ouro.
Até hoje a noção de limpeza
do Yôga nos surpreende e nos faz pensar que a limpeza necessita de um cuidado
que poucos percebem: a alimentação. Muito da sujeira que acumulamos está
relacionado com aquilo que comemos. A limpeza interna sugerida pelos kriyás são
uma lição de higiene e cuidados consigo próprio em um mundo que se cultiva
muita a aparência externa. Além disso nos faz refletir sobre o quanto as nossas
emoções mau administradas também nos conspurcam externamente e internamente.
Andre Mafra
Diretor da Uni-Yoga – Unidade Brooklin
Para saber mais leia:
Tratado de Yôga, DeRose - Nobel
Coleção Terra
Brasilis de Eduardo Bueno