Foto: Fer Vasconcelos | Modelo: Marina Engler
... Os ásanas dão uma firme estabilidade ao corpo e ao mesmo tempo reduzem o esforço físico ao mínimo. Evita-se assim a sensação irritante de fadiga, de enervamento de certas partes do corpo, regulam-se processos fisiológicos e permite-se, desse modo, que a atenção se ocupe exclusivamente da parte fluida da consciência. No começo as posturas são incômodas e mesmo insuportáveis. Mas, após certo treino, o esforço de manter o corpo na mesma posição torna-se mínimo. Isto é de importância capital; o esforço deve desaparecer, a posição meditativa deve-se tornar natural, só então ela propicia concentração. "A postura torna-se perfeita quando o esforço para realizá-la desaparece, de forma que não haja mais movimentos no corpo. Assim também, sua perfeição se cumpre quando a mente se transforma em infinito (anantasamápathibhiyám), isto é, quando ela faz da ideia do infinito seu próprio conteúdo."(Vyása, comentando o Yôga Sútra, II, 47.) Vácaspati Misra, comentando a interpretação de Vyása, escreve: "Aquele que praticar o ásana deverá valer-se de um esforço que consiste em suprimir os esforços corporais naturais. De outra forma, a postura ascética da qual falamos não poderá ser realizada". No que se refere à "mente transformada em infinito", isto significa a supressão total da atenção à presença do próprio corpo.
... A finalidade dessas posturas meditativas é sempre a mesma: "A cessação absoluta da perturbação dos contrários" (dvandvána-bhighátah; Yôga Sútra, II, 48). Alcança-se então certa "neutralidade" dos sentidos; a consciência não é mais perturbada pela "presença do corpo", conquistando-se a primeira etapa em direção ao isolamento da consciência e interceptando as pontes que permitem a comunicação com a atividade sensorial.
O ásana marca com nitidez a transcendência da condição humana.
Yôga, imortalidade e liberdade, Mircea Eliade
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