domingo, 4 de abril de 2010

Shiva Natarája - decifrando a dança de Shiva


Na Índia, uma das variações mais conhecidas da dança de Shiva é a Nadanta, representada na figura acima. Para facilitar sua decifração, as “chaves” principais foram sumariamente escritas na escultura.

O tambor na mão direita confirma sua origem pré-ariana: os dravidianos são formidáveis com o tambor. Simbolicamente, o tambor, o damaru, é o som primordial. O Unmai Villakam, versículo 36, diz: “A criação vem do tambor...”. Será isso uma surpreendente intuição do big-bang da física moderna? A concordância é, pelo menos, perturbadora.

Com a mão direita, erguida em abhaya mudrá, Shiva diz: “Eu protejo”.

O fogo, que transforma e destrói, surge na mão que toca o aro em chamas. Afronta para os brâmanes, Shiva reúne em si três funções cósmicas: criação, proteção, dissolução. Para eles, Brahma cria, Vishnu protege e deixaram para Shiva o poder inglório de destruir!

Enfim, a mão que aponta para o pé esquerdo erguido libera aquele que penetra o mito, revelando-lhe a essência do cosmo.

O pé direito esmaga um anão maléfico, o demônio Muyalaka (Avidya), ou seja, o demônio da ignorância. O conjunto repousa num pedestal em forma de lótus.

Sua cabeleira reúne muitos símbolos. Joias ornamentam seus cabelos trançados, cujas mechas inferiores dão voltas, indicando a impetuosidade de sua dança, que mantém o universo. Outra fantástica intuição: no grão de areia, para mim insignificante e imóvel, os elétrons giram em torno de si mesmos (o spin), “valsando” ao redor do núcleo dos átomos a milhões de quilômetros por segundo. Se, no cosmo, de repente, todos os elétrons, assim como a energia cósmica parassem, o universo cairia de imediato no “nada dinâmico” (akásha) de onde proveio!

Uma serpente se enrosca em seus cabelos, sem lhe fazer mal.

O crânio é de Brahma! A ninfa diz que o Ganges brota de sua cabeça. Enfim, o crescente lunar. Sua cabeça é coroada com uma guirlanda de Cassia, planta sagrada. Em sua orelha direita, um brinco de homem, na esquerda, um de mulher, indicando que ele reúne em si os dois sexos.

Suas joias acentuam sua divindade: usa ricos colares no pescoço, seu cinto é coberto de joias preciosas, braceletes ornam seus pulsos, seus tornozelos, seus braços e leva anéis nos dedos e nos artelhos! Veste um calção de pele de tigre e uma faixa. Para afrontar os brâmanes, ele também usa o cordão sagrado.

Todo o conjunto transmite uma impressão de impetuosidade graciosa, leve e fácil: Shiva-Lila é um “jogo”! Apesar de sua dança desenfreada, o rosto de Shiva continua sereno. Na fronte, abre-se o terceiro olho, da intuição, que atravessa as aparências e transcende o sensorial.

Para quem sabe ver, principalmente, perceber a dança de Shiva, numa concisão comovente, revela o Supremo. Assim, Shiva é Natarája, o rei da Dança.


Texto retirado do livro Tantra: o culto da feminilidade, de André Van Lysebeth.

Um comentário:

  1. Muitíssimo interessante....

    Assisti a um filme em que o personagem se dizia Shiva - o deus da morte!!!...

    Achei interessante e procurando me deparei com seu blog. Show mesmo.....

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